
Lendo "O homem artificial", de Braulio Tavares (escritor paraibano), me sinto mais inquietada diante desse universo literário que descubro. Como nos últimos dias leio muitas coisas sobre a identidade do homem, o homem e sua relação com a literatura e consigo, selecionei esse poema que não deixa a desejar em se tratanto de estética e, sobretudo, em se tratando da conexão homem-questionamento:
Teogonia¹
Cada homem faz um deus
à sua imagem e semelhança;
esse deus é, dentro dele,
incêndio e dança.
Assim como um paraíso
em cada homem um inferno
como ele: impreciso
como ele: eterno.
Cada homem traz guardado
no lugar onde faz sonhos
o rosto oculto e sagrado
do seu demônio.
Cada deus vive num homem
e esse homem quase o alcança
e um dos dois só morre
quando o outro cansa.
¹ Extraído de: TAVARES, Bráulio. O homem artificial. Rio de Janeiro: Sette Letras, 1999, p. 21.