quarta-feira, 15 de julho de 2009

Aos anos (quase perdidos)!

2004, o ano das realizações. Sentia que talvez um dia fosse delegada ou advogada; usaria terninho e salto, mas com pouco mais de uma semana tive a sensação de que estava fora do meu mundo. Todas aquelas palavras complicadas (jurisprudência, inconsti-tu-cionalidade) me tiravam o gosto por entender o universo jurídico. Assim foram chegando os professores e cada um teve um papel importantíssimo para que eu começasse a pensar em um dia fazer parte de um corpo docente de uma licenciatura em Direito...imaginam que era um mais motivador que o outro..digamos que alguns deram aquele escarro de catarro de 7 dias na LDB! Estudava (ou melhor dizendo, freqüentava) na sala do Mangueirão. Perfeita! Duas entradas, logo: duas saídas. Entrávamos pela frente e...em 10 minutos, saíamos para conversar por trás.



2005, o segundo ano de curso. Ainda tinha a sensação de que mudaria o mundo, mas pouco a pouco a ilusão de que essa mudança adviria do Direito foi sendo apagada. A turma que ainda era unida se reunia nas casas para eventuais festinhas de maior aproximação, com pouco tempo isso se apagaria da memória de quase todos.



2006, aqui já estávamos numa fase de que muitos já sabiam o que não queria para si. E eu definitivamente contestava a decisão de meus pais...sentia que boa parte do meu tempo era perdido. Mas por outro lado via que se um dia tivesse filhos, seria capaz de compreender suas decisões. Assim fui levando...



2007, nesse ano lembro de alguns poucos escândalos na faculdade...coisa normal. Nesse ano decidi que não participaria de baile de formatura. Vi que muita gente de Direito entra nesses eventos apenas para mostrar à sociedade que (se antes não fazia parte, agora) faz parte da elite campinense. Comecei a abrir o olhos diante desse mundo do direito egoísta, vi que boa parte de meus colegas sairia em dois anos lutando por direitos e não por justiça. Senti, portanto, que não era meu destino lutar pelo direito e que para fazer a justiça acontecer não era necessário estar no meio judiciário.



2008/2009, chego enfim ao ano final. O que mudou? O que aprendi? Se lhes disser que não ficou nada estaria cometendo um grave erro, estaria me intitulando “burra em potencial”. Afinal, aprendemos com tudo e por todos os lugares por onde passamos. O CCJ foi palco de grandes mudanças, sobretudo psicológicas, na minha vida. Foi lá que tive aulas intensas de como ‘não ensinar’. Aprendi os três mandamentos da didática pura dos professores (advogados, procuradores – longe de serem os da felicidade -, juizes) frustrados:
1° Não deixarás o aluno pensar! (De modo algum deixe que o aluno veja que é capaz de ser agente de um mundo melhor. Deixe que apenas perceba que é capaz de decorar para passar em qualquer concurso para que possa ganhar muito dinheiro)
2° Positivistas já! (Que o aluno jamais enxergue o Direito como ciência. O Direito não se mistura com outras disciplinas “Compre batom, compre batom”.)
Defendi minha monografia (e posso lhes dizer que literalmente DEFENDI) diante de uma banca que bem representou meu curso inteiro: de um lado dois opostos – os olhos verdes do direito positivista e o olhar louco da ciência e de outro, toda minha paixão pela literatura junto do meu ideal de futuro. Nesse dia, em especial (26/06/2009), sai da faculdade sem olhar pra trás com um misto de tristeza profunda, por não ter levado mais de lá, e felicidade ímpar, por apesar de não ter levado nada, ter deixado muito de mim.





Obviamente em todo canto tem gente boa e reconheço que tombei com alguns poucos professores de competência inquestionável. Esses são meu fio de esperança. Sairei do CCJ acreditando que muito é possível, mas que realmente fui vencedora por passar meus últimos 5 anos me reinventando num mundo que antes de eu não caber nele, nunca coube em mim!

3 comentários:

  1. Aprendi. Aprendi a viver...cheguei criança...inocente, iludido com a realidade jurídica e das pessoas. Quebrei meus tabus, quebrei muitas das minhas ideologias...passei a ver a realidades, meio cinza, mas saio sem abandonar o desejo de mudança, a força, a raça...saio mais pragmático, mais direto, mas igualmente inconformado e de peito aberto para guerrear. O direito...este aprendi em casa, com meus livros, na biblioteca (quantas horas...), nos estágios e para não ser desonesto com alguns professores.
    Um grande beijo. O texto ficou ótimo...só que isso eu já sabia. Escreves muito bem.
    P.S.: Pq eu não to nas primeiras fotos =X kkkkkkkkkkkkkkkk

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  2. Pahhh...escrevi um comentário, mas não postou. =/
    O texto ficou muito bom. O que tenho a dizer sobre 5 anos de UEPB (Direito)...é que aprendi muito mais a viver. O direito...este aprendi em casa, com meus livros e com poucos professores.
    Entrei criança saí homem.
    Um grande beijo.
    P.S.: Senti falta de mim nas primeiras fotos...kkkkkkkkkkkk...

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  3. Parabéns Dr. Paloma Oliveira, agora Bacharel em Direito. Em teu post reafirmei a minha certeza que a essencia nao muda. A menina que por vezez parecia ser a personificaçao da contradiçao, com ideias e atitudes sempre inconstantes à primeira vista, se mostra muito convicta de seus ideais.

    Mudanças sempre ocorrem,para o bem da evoluçao. No teu caso, o ambiente do CCJ teve 5 anos para transformar um menina inteligente e idealista em mais uma advogada do pais de burocratas, conseguiu, na verdade, reafirmar as tuas convicçoes.

    Parabéns, o mundo precisa de mais pessoas assim, que sabem que podem e nao se conforma em aceitar o que ai ja esta "consolidado" so por assim ser!

    parabéns pelo texto. impecavel!

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