domingo, 25 de outubro de 2009

O câncer no pêssego

Depois de um tempo de Dedicação à literatura Paraibana, volto ao blog novamente com José Antonio Assunção. O poeta é vivo, mas às vezes sinto letras mortas em sua poesia. Não se pode examinar e diagnosticar o que exatamente um homem sente ao escrever "o câncer no pêssego"(Dizem à boca pequena que o poeta admirava sua amada deitada, nua, no sofá quando vê em sua perna um furúnculo e não admite que uma pele (pêssego) tão macia e perfeita possa ter um furúnculo (câncer) tão asqueroso). O livro é complexo, profundo, denso. O que diríamos de um subtítulo não menos enigmático como “o exercício de Sísifo”? Tanto existencialismo e inquietação não se seriam melhor expressos que no poema abaixo:


Paris-Texas

Algum dia sonhei Paris.
Ver a Torre Eiffel de Paris
o museu do Louvre de Paris
les fleurs des Champs-Elisées de Paris.

Depois conheci Drummond, li
Pessoa, Borges, Camus
e de algum modo fui (sem ver Paris)
o errático Rimbaud, sem tempo de Utopia.

O sentimento do mundo vinha adiposo com Bibi
mercador das flores do tédio onde aprendi
que o homem é êxule Sísifo,
estrangeiro em Paris como em qualquer lugar.

Hoje, já não sonho Paris; vivo o Texas,
Dante. Aos olhos de um homem em crise
toda geografia é o mesmo acidente.

ASSUNÇÃO, José Antonio. O câncer no pêssego. João Pessoa: Idéia, 1992.

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