quarta-feira, 21 de março de 2012

Dias de reflexão


Esse texto é para você que já conhece o tudo de mim....
....à vontade para entrar nesse buraco sem fim  


             Como você sabe estou num mundo novo para mim. Na verdade, começo a achar que estou entrando numa espécie de vida nova em que novos conceitos se agregam e antigos se confirmam ou se descartam.
                Dos que se agregam penso num saldo positivo de reinício de confiança na vida. Todo relacionamento que entro e saio, seja de amizade, seja de namoro, seja profissional, eu costumo pesar numa balança e observar o que continua na minha bagagem e o que se esvai. Eis que, desta vez, farei meu balanço geral por escrito. Tal como um testamento, nele deixarei o que podem herdar de mim e dele tirarei o que não se precisa para a mediocridade.
                Para que no fim não haja um gosto amargo, começarei aqui mesmo pelo saldo negativo de meus últimos seis anos de vida. Não sei por onde começar, mas acredito que a origem de muitas angústias deva ter um princípio; algo que a partir disto desencadeou uma série de atitudes mal tomadas (ou pouco pensadas...que seja). Penso bem se esse princípio veio de dentro de mim, desse órgão latente que é o coração. Acho que já me aproximo da origem.
                Começo a lembrar do inverno de 2005 quando eu tinha 19 anos e me achava muito dona de si. Fiz uma viagem para Goiás, minha primeira viagem longa sem meus pais. Na época eu estava começando a respirar um de meus sentimentos favoritos: a liberdade. Nessa viagem conheci algumas pessoas que passariam rapidamente por minha vida e outras que permaneceriam por pelo menos 3 anos.  Desse inverno, lembro bem como se fosse hoje, trouxe os ventos secos e gelados dessa cidade.
                Eu tinha alguém que magoava constantemente. Quando não achava suficiente eu dava um jeito de magoar mais. Não era proposital. Falta de experiência quem sabe. Essa pessoa fez parte de um crescimento espiritual, de uma autodescoberta, mas nesse inverno quis fazer dela chuva e a deixei escorrer pelos dedos.   Parti para uma nova fase da vida e nessa nova fase fiz tudo quase do mesmo jeito. O nome ‘nova’ parecia mais com atual do que nova. Disso hoje tiro minha primeira lição: não há como entrar em nova vida se as concepções permanecem velhas.
                Perdurei por 3 anos sendo transmutada em algo que minha essência não permitia. Sofri por ser privada de coisas que gostava, sofri em nome de um amor possessivo e punitivo. Errei muito, mas meu julgamento teve juiz, júri e condenação. Na época não achava que pudesse piorar. Mas já diria a velha guarda ‘desgraça pouca é besteira e desmantelo só presta grande’.
                Isso me faz pensar no erro. Quando erramos perdemos a capacidade de autocrítica. Fechamos os olhos e não observamos que o erro é algo que afeta a você e a outras pessoas. Talvez se passe que isso possa acontecer, mas nunca se sabe a dimensão temporal de um erro. Então...foi na sucessividade de erros que fui deixando que minha autoestima se abalasse. Aos poucos fui deixando o egocentrismo alheio e jurista tomar conta até dos meus gestos. Os amigos de longa data não reconheciam nas minhas palavras a amiga de sempre e assim fui me afogando no mar de tristeza.
                Um belo dia acordei decidida a me retomar, me reinventar. Cansei de um amor que só era desamor e fui em frente, dei o passo que homens bobos são incapazes. Pus um ponto final. Como quem conhece bem meu trajeto sabe que não foi fácil esse desvencilhamento; sabe bem do estigma que a festa de São João se tornou quando decidi não olhar pra trás; sabe das sucessões de problemas e novos desafios a enfrentar; sabe também da minha incapacidade de fazer valer a Lei Maria da Penha que tanto defendi no meio acadêmico, mas que quando se transpôs pra vida real se tornou Lex non est textus sed contextus.
                Passada essa fase observei que deveria mudar e dessa vez não apenas de par, mas de concepções e assim o fiz. Voltei a ser Paloma autônoma, recuperei grande parte da autoesima que havia perdido, estava radiante, feliz enfim. Mas já dizia Joseph Climbler: “A vida é uma caixinha de surpresas”. Exatos seis meses após o início desse sonho fui privada de sentidos e inteligência, como Misael na ‘Tragédia brasileira’, e quase vi minha escolha em decúbito dorsal. Mas, como na vida as nossas próprias atitudes nos superam eu me surpreendi e diante de tanta dor eu encontrei a esperança de uma flor no asfalto.
                No início fui acometida de uma esperança dolorosa, com o passar dos meses a vingança veio em mente. Tinha uma meia de dúzia de amigos a par da situação. Alguns de fé e força que se dispunham a me ajudar independente da minha decisão. Certa vez, um sabendo de minhas dores e pesadelos terríveis me disse com exatas palavras:

27/09/09
sim, só mais uma coisa (nada que você já não saiba):
você quer parar, beleza, terá meu apoio do mesmo jeito que teria se quisesse continuar, isso é fato. Mas se realmente quiser fazer isso, procure realmente esquecer tudo a respeito, até mesmo parar com os pesadelos (sei que pode não ser fácil).
porque pior do que alimentar um sentimento é deixá-lo reprimido, seja ele bom ou ruim.
"Live and let die!"
- Paul McCartney

                Eu conseguia tirar forças e arrancar o orgulho do peito de um modo que não me reconhecia. Passei de fase em fase: dor, choro, arrependimento por algumas atitudes que não tive, de nojo, asco, carinho, pesadelos, voltava à dor, esquecimento repentino, desdesejo, perda de esperança no casamento, em filhos, tudo foi se consolidando na minha inflexível mente e me sentia dentro do “Caso do Vestido”, de Drummond. Assim fui vivendo meus últimos três anos de forma negativa.
                No início falei que para tudo há saldo negativo e positivo. Vamos aos positivos...sempre que puder olhe pro seu passado e veja o que aprendeu com ele e  a aprendizagem por mais dolorosa que seja é um meio positivo de encarar a vida. O que eu aprendi?
Aprendi que se uma pessoa nunca errou com ninguém ela pode errar justamente com você. Não que a lei de Murphy lhe persiga, mas em relacionamentos somos todos humanos, portanto suscetíveis dos piores erros. Não ache que encontrou seu príncipe ou sua princesa e que eles continuarão santinhos. Pela experiência de vida é mais fácil encontrar alguém que errou feio e se arrepende do que quem nunca errou, porque de fato quem já errou sabe o tamanho da dor que causa uma grande decepção, mas quem nunca errou pode querer provar a sensação nova e aí baby você pode ser a cobaia desse teste. Mas o que isso tem de positivo? Tem que você pode ser mais esperta e ver o quanto de humanidade tem em cada pessoa e que no fim das contas a única errada não é você!
Aprendi coisas simples do tipo não associe cantores e músicas fixamente a pessoas, porque depois vai dar um trabalhão desvincular a imagem e o coitado do artista não tem nada a ver se você foi corno ou se bateram em você. Chega a ser engraçado, mas pense bem se não tem aquela música que você nem quer escutar mais porque lembra aquele momento com aquela pessoa que você quer esquecer?
Procure saber o mínimo de passado da pessoa com quem você pretende ter alguma coisa. Não que você não deva tomar conhecimento de ex e alguns rolos mais sérios, afinal em algum momento você saberá da existência dessas pessoas, mesmo sem querer. Mas falo de saber de um passado do tipo ficha completa, saber exatamente cada pessoa que passou pela vida dele/a. Esse tipo de coisa não ajuda a fluir. É como se ficasse um eterno zunido no seu ouvido: Olha o perigo, ele/a vai voltar. É interessante saber como as pessoas que passaram pela vida de quem atualmente está do seu lado contribuíram para ela ser como é no hoje. No mais, nomes e fisionomias não vão mudar o que ainda estar por vir.
Fez parte do meu aprendizado que o passado não é só o passado enquanto você deixar que seja parte do presente. Explicarei: Sabe aquilo que te aconteceu há 6 anos? Esse aquilo vai voltar, não importa. O que vai diferenciar é como você vai encarar essa volta. Comigo, hoje, aconteceu da pior forma. Nunca que eu pensei que um erro aos 19 iria se colocar cara a cara com os 25. Ele veio justamente por não haver previsibilidade. Da primeira vez esse erro ressurgiu quando eu estava com 22 e eu lidei da pior forma: culpada e errada por tudo, baixei a cabeça e deixei meus últimos 3 anos me fazerem infeliz porque todas as desgraças do mundo (até a morte da Dercy Gonçalves) tinham a ver com isso.
Aprendi que só posso ser hoje quem eu sou pelos erros. Se faria tudo de novo? Muita coisa sim, mas tudo não, afinal tem erro que é tão erro que não vale a pena errar de novo só para aprender. Hoje sou alguém melhor, amanhã serei mais ainda e termino com palavras do mesmo amigo que me ajudou em 2009:

e pare de se preocupar com essas coisas do passado!
não sei ao certo a imagem que você tem de si mesma depois de tudo isso, mas você não é nenhum monstro. A gente brinca que somos Sith, mas na verdade não conheço nenhum Jedi melhor que você!”

Sejamos Jedi por dentro e Sith por fora porque o bem vence o mal, mas só vencemos àquilo que conhecemos e para vencer o mal dentro de nós é necessário que o bem se misture a ele.

Paloma Oliveira 

2 comentários:

  1. Lindo, Pah!! Acho que tu devia escrever mais vezes, porque por mais que a gente converse, por mais que tu me fale como se sente, o que pensa, parece que tem sempre alguns sentimentos que a gente não percebe, ou não consegue explicar, e quando a gente escreve, conversando com a nossa parte interna, a gente consegue se abrir. Muito legal.
    E acho que seu amigo, está certíssimo. Principalmente nisso: "e pare de se preocupar com essas coisas do passado!
    não sei ao certo a imagem que você tem de si mesma depois de tudo isso, mas você não é nenhum monstro".

    TE AMO!!
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  2. Paaah, seja a Pah autônoma e seja feliz!!!
    =**

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