terça-feira, 8 de maio de 2012

U.U

         Hoje comentei com meu pai sobre como a gente se acostuma ao lado das pessoas. Ia passando ali pela Avenida Canal e lembrei de quantas vezes eu passei por lá. Todas as noites saíamos para jantar e geralmente as rotas se direcionavam por essa avenida. Fiquei um tanto pensativa depois de passar por essa rua. Conversei por 10 ou 15 minutos com meu pai sobre. Ele disse que costume é assim mesmo, é difícil desapegar de uma rotina que se tornava prazerosa por ser sempre diferente de alguma forma, mas que apoiava minha decisão, por saber que eu obedecia uma ordem justa de organizar a vida. Percebi certo orgulho dele em relação à filha.
         Cheguei em casa, e por acaso abri umas pastas antigas de vídeos. Eu sei....tenho mania de gravar quando estou com o celular na mão. Herança de convívio com uns dedinhos rápidos que tive a honra de conviver. Então olhando as pastas abri uma que me doeu de alguma forma. Sabe quando você consegue sorrir e chorar ao mesmo tempo? Foi por aí.
              Eu fiquei feliz por perceber que tive momentos felizes e não percebia que esses pequenos momentos me arrancavam sorrisos sinceros. Eu fiquei triste pelo mesmo motivo. Vendo os vídeos eu finalmente entendia aquela dedicatória do livro, eu realmente conseguia privá-lo das máscaras sociais, ele conseguia ser ele ao meu lado. Em fevereiro era uma crise de choro porque queria sobremesa. Eu filmava rindo tanto, era engraçado. Em março era a espera do avião, com Yohanna tomando sorvete, a BR cheia de carros e nosso domingo se fazia nisso: ir olhar o avião passar pertinho das nossas cabeças por alguns segundos. Êxtase! Tinha também a chuveirada e a tremida que imitava tripa seca. Em abril a masculinidade sendo posta à prova enquanto ele comia o gengibre e em outro vídeo as lágrimas escorriam pelos parabéns que um amigo enviou por foto. Em maio era colocando minha prima mais velha para comer hassabi e se rachando com a cara da coitada. Em junho era falando com a afilhada (Só um pouquinho p a p a i) no telefone e seu recado incompreensível de que a guria queria uma maquiagem do padinho. Em julho oscilava-se entre o cover de Luan Santana e seu bundão e olhos vesgos e as filmagens dos roncos infinitos nas tardes de domingo.
              Quando você consegue arrancar uma voz meiga de alguém que demora a sorrir é um prêmio. Parte da minha indignação era essa. Eu deveria me orgulhar por ser a única que conseguia esses momentos, mas isso me angustiava porque acho que coisas boas devem ser divididas com o mundo. Eu não aguento não poder dividir com todos. Rever esses vídeos doeram de alguma forma. Muitos pareciam que estavam sendo vistos pela primeira vez. Tive a sensação de nunca ter vivido aqueles momentos hoje tão distantes.
                 Diferentemente de outros textos esse não tem conclusão, porque ficou um vácuo na mente. Desculpas a quem lê e sempre espera uma daquelas minhas lições engraçadas ou coisas que a gente leva pra vida. Hoje apenas não concluo.

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