quarta-feira, 2 de maio de 2012

Sobre amores e pássaros

           Fui lavar os pratos e de repente começou uma música desses forrós meia boca dizendo "Ninguém nunca vai te amar como eu te amo". Fiquei pensando nessa frase que é dita todos os dias por um monte de homens e mulheres. O mais interessante é que a gente sempre encontra alguém que ame mais ou menos, mas realmente ninguém ama igual ao outro. Parece um clichê de criatura safada, mas né não. É uma verdade que tomei para mim.
            Eu amei 'ele' de um jeito, o outro 'ele' de outro e amarei mais um 'ele' de maneira diferente. Isso tudo porque varia a intensidade com que as coisas acontecem. Há gente em que o amor é fraternal, a gente se relaciona por alguns meses e só percebe que o amor era de irmão quando baixa o fogo do desconhecido. Lembro de uma pessoa que eu dizia: o que me prende a você é o mistério de não saber o que se esconde por trás dessa falta de sorriso. Anos depois descobri que não havia mistério, havia ausência de alguém que o fizesse sorrir, coisa tão simples que eu consegui fazer. Mas amei enquanto foi mistério. Amei pessoa e/ou mistério.
              Amei de um jeito menina. Quando eu ainda estava desenvolvendo minhas habilidades de durona. Aí foi mais leve. Foi desafiador. Era o mais inteligente, oia! E eu me sentindo a fodona tinha chegado alguém pra ser melhor que eu. Nunca que eu ia admitir. Foi divertido. Acho que ensinei P.A. e P.G. a quem me ensinaria que sentimento não é marcado em números. Foi uma adolescência que me permitiu crescer. Tinha uma historinha clichê de 'no futuro a gente ainda pode se reencontrar e eu caso contigo' (Foi quase isso). Esse amor previa que eu tinha mais que asas, acho que ele enxergava um passarinho mutável dentro do meu coração. Nessa época eu achava era um beija-flor. Na natureza que procurava não conseguia sentir o perfume de apenas uma flor, então precisei amar outras flores.
              Esse tipo de amor deixou claro porque na vida existe 1º amor, porque virá um 2º, um 3º e tantos outros. Falavam 'Garota, primeiro amor a gente nunca esquece'. Esquece mesmo não, como não esquece os que vem na sequência, porque se esquecer sinceramente é problema de Alzheimer. Como você pode esquecer alguém que você olhou nos olhos e disse um "Eu te amo" (amo tu, mutu, amooo) ou ainda alguém que você chamou de amor, amorzinho com todos os 'inhos' que o mimimi dos apaixonados permitem?

              Aconteceu também de amar de forma mais possessiva, era um amor meia boca, porque parte do princípio de 'é meu e ponto'. Tudo atrapalhava: amigos, família, era um grude infernal. Quando não tava no telefone ele tava na minha casa. Até estudar era na mesma mesa. Cheguei a aprender algumas coisas de criptografia, circuitos elétricos, potência, máquinas, elepote...com o tempo fui vendo que não era normal, manerei. Mas aí rola a lei da ação e reação e tudo se voltou contra mim. Foi uma questão de controle e quando eu vi tava deixando neguinho escolher com que tipo de roupa eu saia, ligando pra saber 'aonde' eu estava e não 'como' eu estava. Foi amor? Por um tempo, foi um jeito um tanto burro de amar, mas não deixou de tipificar como forma, como subtipo. Talvez essa tenha sido a fórmula mais rápida. Esqueci nos 20 segundos do primeiro tempo, inacreditável, não? Fui aqui de beija-flor a papagaio. Desta vez na gaiolinha, sem força para voar.
              Aconteceu de tentar voar, mas o peso do meu corpo era demais. Tantos outros enxergavam uma andorinha, mas eu sempre mostrava quem não estava disposta a voar. A gaiolinha era tão mais confortável. Assim passaram um sem números de apreciadores de pássaros, mas nenhum tinha capacidade de ensinar o papagaio a repetir a palavra mais usada de todos os tempos: Amor.
             Com o passar do tempo fui vendo que enquanto papagaio eu estava agindo como o boneco de lata: à procura de um coração. Nessa busca cansativa eu achei ter encontrado esse coração. Então as penas foram mudando a coloração. Ainda não sabia no que estava me tornando, mas dei um espaçozinho para essa mudança. Comecei a ver uma forma de amar que a gente crê que é 'para todo o sempre'. Claro que sim, até alguém enfiar um bisturi quente no talo do coração. Sem drama, foi um drama. Doeu porque eu tinha me permitido amar novamente e durou tão pouco minha alegria. Acontece que isso me ajudou, porque não quis voltar para a gaiola, com esse 'amar' eu aprendi uma lição valiosa: eu finalmente tinha um coração.
               Saí em busca de intensidade, faltou isso para o beija-flor, para a andorinha, para o papagaio. Até que um belo dia descobri que tipo de pássaro habita na minha essência. Tão óbvio desde que nasci. Vem no meu nome, uma pombinha. Muito possivelmente todos teriam visto em mim essa pombinha, mas enquanto eu não via não conseguia corresponder às tantas formas de amor que recebi. Porque as pombas são fiéis, duram uma vida toda ao lado do parceiro.
                   Acontece que elas sabem desde que nasceram que são pombas, eu não sabia. Saí procurando formas e formas de amar periquitos, galos de briga, corvos até seres de outra espécie como cachorros, macaquinhos, peixes, cavalos. Eu descobri um dia desses que sou uma pombinha, agora posso esperar que um pombinho faça a dancinha pra mim. É gente, quando eu descobri que era uma, fui atrás de saber da palumba (latim do nível mais chique). Descobri que elas encontram um pombinho único na vida, eles se bicam carinhosamente (é o beijo deles) e depois o macho dança para que a fêmea caia de amores; eles acasalam e ela bota em média 3 ovinhos.
                Isso tudo esclarece porque nunca quis casar. Não dava pra casar se não achasse um pombinho. Não queria ser mãe por quê? Porque minha natureza só permitia a mesma espécie. Então hoje já me encontrei. Agora consigo voar e ter a sabedoria de construir meu ninho seguindo a minha natureza. Afinal ninguém vai me amar da mesma forma nunca, mas dessa vez será da certa, porque eu me permito! 
 
Por Paloma Oliveira.

2 comentários:

  1. Acontece assim com todo mundo? Ainda não descobri que pássaro sou. Nem se sou pássaro. Mas, eu acho que gostaria de me descobrir também, Pah!!
    Lindo texto, viu? Inteligente.

    TE AMO!!
    Sayonara

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  2. Say, eu acho que você já sabe que é borboleta desde que nasceu. Eu não conheço a vida delas..ce bem que poderia procurar saber, nera?

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